O camarim é conhecido como o lugar onde os artistas trocam de roupas, enfim, preparam-se para uma apresentação. Objetivamente isso é a realidade, o que se pode perceber. Mas para o artista é muito mais do que um simples vestiário.
O camarim está para o artista como aquelas caixas secretas onde guardamos o que nos é caro: lembranças de um tempo, fotos de quem amamos, pedaços do que fomos e quando fomos.
E quando recorremos à ela, nos traz de volta aos momentos que alí deixamos como uma confirmação da realidade vivida.
Nesse espaço tão peculiar, tão nosso, que é o camarim, nos despedimos temporariamente de quem somos para assumir outra persona com jeito, atitudes e personalidade diferentes. Aos poucos vamos tomando a forma da personagem.
Nossos rostos, através da maquiagem, vão-se evidenciando os traços, assim como o penteado e os trajes, vão nos colocando em outro tempo, em lugares diferentes, com hábitos diferentes, em classe sociais diferentes da nossa, enfim com personalidades diferentes.
Todas essas características vão gradativamente tomando à frente de quem somos e que generosamente permitimos.
É como uma nave do tempo que nos transporta para uma viagem mágica no tempo e no espaço. E essa mesma caixa secreta, essa nave do tempo, esse sacrário, onde guardamos confiantes a nossa essência e também preservamos nossas fantasias, é a mesma que nos traz de volta para o que somos, para os que amamos e para nós mesmos.