Crônica | Vamos Contar Histórias

Literatura

Após o nascimento de minhas filhas passei a exercitar uma arte que aprendi com minha mãe, a arte de contar histórias. Lembro nitidamente de minha mãe cozinhando e eu ao seu lado ouvindo as peripécias da tartaruga e da lebre, da raposa e as uvas e claro, histórias de princesas, príncipes, gata borralheira, Rapunzel presa em sua torre e tantas outras.

Essas narrativas povoaram minha infância e toda minha trajetória.

Exercitei esse dom primeiramente com minha primogênita, além de ler uma porção de livros diariamente, também contava histórias para ela antes de dormir.Histórias de jardins encantados, sereias cantoras e do palhaço sapeca, todas saídas da minha imaginação, num exercício diário de criatividade.

Esse hábito continuou por ocasião do nascimento de minha filha caçula e em 2007 gerou um fruto: a Simone Nasar Cia de Espetáculos, companhia de teatro criada com o intuito de levar histórias para crianças que não conheciam a saga de dona Baratinha em busca de marido, não tinham ouvido falar em Saci, Curupira, Mula  sem cabeça e toda uma série de histórias brasileiras que não estavam sendo passadas de geração para geração visto que as mães e avós já não tinham mais tempo ou haviam perdido esse hábito.

Qual não foi minha surpresa ao perceber que eu não estava só, existia uma miríade de contadoras de histórias e diversas companhias que sentiam essa mesma necessidade.

O contar histórias há muito tempo, tem espaço no núcleo familiar levando aos seus integrantes informação, ação, suspense. É também o meio pelo qual memórias, histórias e conceitos são transmitidos. Porém na atualidade essa arte se perdeu entre smartphones e notebooks.

Nossa busca para cumprir as necessidades da sociedade moderna exige atenção plena para pertencermos a ela, estarmos conectados. Porém, nosso tempo vai ficando cada vez mais escasso e poucos entendem que estão deixando de lado o prazer e as condições para uma melhor convivência, seja no âmbito familiar, seja na comunidade.

Com isso vamos perdemos referências familiares, noção de comunidade, os valores familiares e da sociedade.

O ouvir e contar histórias permite que o ouvinte construa a sua própria história, esta faz com que ele se desenvolva no meio em que vive buscando sua autonomia e liberdade de fazer suas próprias escolhas.

Ao conhecer as histórias da sua gente, se cria um sentimento de pertencimento que vai gerar um cidadão mais consciente e participante das possibilidades da sociedade como um todo.

Formaremos uma massa crítica e preparada para o exercício da cidadania e a resolução dos problemas pessoais e coletivos.

É primordial que voltemos a contar histórias, é fundamental que se mantenham os laços de humanidade que nos unem em nossa diversidade.

Que muitos pais, avós, escritores, professores, enfim, toda a comunidade se mobilize e retome esse hábito, senão diário, que pelo menos insira no cotidiano esse exercício tão salutar e que é tão bom para quem conta como para quem houve.

Sejamos todos contadores de boas histórias.

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